Menu
Revista Alma
Maria Navarro
Foto: Maria Navarro

YOGA DE RUA – A ARTE DO ENCONTRO

 

Toda cidade, todo parque, toda praça deveria ter seu próprio Yoga de Rua. Idealizado por André Ahlaad em fevereiro de 2016, o projeto tira o Yoga das academias e o leva gratuitamente a moradores de rua. São três horas de troca de experiências que têm revolucionado a mente dos alunos, professores e voluntários do projeto, cuja espinha dorsal é a filosofia yogue.

 

Cartões postais

 

O projeto ocorre três vezes por semana, à sombra das árvores do Aterro do Flamengo (segundas), do Parque Guinle (quartas) e da Praça Paris (quintas), três dos mais belos espaços públicos do Rio de Janeiro. Começa às 10h com uma longa aula de Hatha Yoga, passa por uma sessão de meditação e termina com um almoço vegetariano (ou vegano) embalado por conversas em torno dos conceitos filosóficos do Yoga. 

 

“Perdi o emprego e fui morar na rua na época que o André chegou com as aulas”, conta Alessandro Santos, que é um dos alunos mais assíduos do projeto. “A prática preencheu o vazio daquele momento difícil e me ajudou muito. Ocupei o tempo livre com a busca de autoconhecimento e passei a dar mais valor ao meu corpo e à vida. O Yoga nos afasta de hábitos impuros como as drogas e a bebida. Não é uma religião, mas puxa por esse lado espiritual e nos dá esperança. Coisas positivas atraem coisas positivas.”

 

Um choque de paz

 

Foi esta sensação positiva que André Ahlaad quis compartilhar com os que moram e vivem nas ruas, público com que trabalha (como voluntário) há alguns anos. “Ao me aprofundar na prática da meditação passei a frequentar retiros, como o Vipassana, e constatei o quanto essa experiência é transformadora. Queria proporcionar algo semelhante, um período o mais longo possível de tranquilidade e introspecção. Um choque de paz”, define o criador do projeto, que é economista, mestre em Ciência Política e doutor em Ciência da Religião, tema em que tem três livros publicados. “Se a meditação me ajudou, iria auxiliá-los também. Por que não?”

 

Yoga de Rua: bastidores

 

O grupo em torno de André cresceu rápido (e continua crescendo). Cerca de 20 professores de Yoga e quatro chefs (além de colaboradores) dão duro para que o “choque de paz” se torne possível e beneficie os que, por vários motivos, vivem nas ruas atualmente. “O almoço ao final das aulas é fundamental neste sentido”, explica André. “Os alunos podem deixar as preocupações de lado e se entregar às práticas, colhendo ao máximo seus benefícios.”

 

Fiéis à filosofia do Yoga, André e seus companheiros optaram pelo vegetarianismo como princípio de vida e também para o projeto. As quentinhas preparadas por Cecília Cabral, Marina Camargo, Aliny Mocellin e Luiza Vilela não contém produtos de origem animal. O cardápio faz sucesso entre alunos como Élcio Fernandes, que teve a vida revolucionada em 2012 ao perder o emprego nos Supermercados Guanabara.

 

Élcio Fernandes

“O projeto faz bem para o corpo, mas também para a cabeça”, diz Élcio. “O modo com que somos tratados às vezes nos deprime, é preciso muita força para lidar com isso. As pessoas se afastam dos moradores de rua, negam até um pouco d’água”, ele lamenta. “Mas aqui somos tratamos com amizade. Adoro as conversas do André, o respeito do pessoal e aulas de yoga como as da professora Bárbara.”

 

A arte do encontro

 

Bárbara Caleo é uma das voluntárias do projeto. Italiana de Pisa, ela rodou o mundo antes de lançar âncora no Brasil e no Yoga de Rua. Trabalhou na Cruz Vermelha, no Médicos sem Fronteiras e viveu em áreas de risco como Serra Leoa, Quênia e Somália. Viu muita coisa, mas nada parecido com o que encontrou por aqui. “Em áreas de guerra ou de pobreza extrema há carência e violência, mas não esse abandono e solidão”, reflete a professora de Yoga. “A sociedade não quer ver os moradores de rua, prefere ignorá-los, fingir que são invisíveis.”

 

O Yoga de Rua vai na contramão desse pensamento. Movido por voluntários e doações mensais, ele dispensa o isolamento das academias e nos lembra que o Yoga é bem mais que um exercício físico. E que a vida, como dizia o poeta Vinícius de Moraes, ainda é a arte do encontro.


SAIBA MAIS:

Visite a página do Yoga de Rua – www.facebook.com/yogaderua – para conhecer mais e saber como contribuir ou se tornar voluntário. Na dúvida, mande uma mensagem, eles sempre respondem.

 

Gostou?

FAÇA PARTE DE NOSSA COMUNIDADE E RECEBA NOTÍCIAS E PROMOÇÕES!

CADASTRE-SE
[ Gustavo São Thiago ] Editor

Editor e publisher da Revista Alma, Gustavo São Thiago trabalhou na grande em imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro, especialmente na área de cultura. Estudioso autodidata das religiões, o jornalista finaliza sua primeira obra de ficção, o romance “Impermanência”, e medita diariamente.

 









COPYRIGHT 2017 REVISTA ALMA