A ARTE DO YOGA
Ao lançar o livro “On Yoga: A Arquitetura da Paz”, em 2015, Michael O’Neill fechava um ciclo de 10 anos retratando a nata do Yoga no planeta. Os maiores mestres, os praticantes mais ilustres e os locais mais sagrados preenchem 290 páginas de um daqueles livros da Taschen que amaríamos ter em casa. Pense em B.K.S. Iyengar. Está lá. Pattabhi Jois? Também. Dharma Mittra, o “professor dos professores”? Idem. Sem falar em Ravi Shankar, S.N Goenka e o Dalai Lama. Qualquer grande nome envolvendo Yoga e meditação nas últimas duas décadas tem forte chance de estar em “On Yoga”.
O maior painel do Yoga
E não só os grandes. Para formar o maior painel iconográfico sobre a rica e diversificada cultura do Yoga, O’Neill percorreu mais de 160 mil quilômetros em busca de suas manifestações mais autênticas, do platô tibetano a festivais hindus como o Kumbha Mela. Uma trajetória que teve início após uma paralisia no braço direito, e a ameaça de aposentadoria compulsória, quando já era um dos maiores fotógrafos do mundo. Graças ao Yoga e à meditação, segundo O’Neill, não perdemos as imagens de seu livro. Elas e muitas outras.
Silenciar sobre essa rica experiência seria levar a sério demais o adágio de Confúcio, e quase sempre associado à fotografia, de que “uma imagem vale mais que mil palavras”. Ou o chinês exagerou ou o documentário do brasileiro Heitor Dhalia (de “O Cheiro do Ralo” e “À Deriva”) é uma daquelas exceções que confirmam a regra. No filme, as palavras caíram tão bem ao fotógrafo quanto a seus fotografados. Complementam e aprofundam a maravilhosa edição da Taschen, mas também lhe acrescentam uma nova camada de arte: a do diretor brasileiro Heitor Dhalia.
Ganges e Manhattan
Apesar do nome, “On Yoga: A Arquitetura da Paz” não é exatamente um documentário sobre o livro. Em sua primeira aventura documental, Dhalia não abre mão de sua fluência poética narrativa e cria uma obra independente, em torno ou a partir da obra de O’Neill, que capta o Yoga onde exatamente onde ele nos ensina a estar: no momento presente, sem julgamentos e atentos a surpreendente conexão de tudo.
É curioso como as imagens e as ideias se fundem na direção do brasileiro. As águas dos Ganges e as águas da ilha de Manhattan; as posturas acrobáticas dos adeptos ocidentais e a performance extravagante dos sadhus de Kumbha Mela; a sabedoria dos gurus indianos e o discurso dos modernos professores de Yoga. Sem ser panfletário – longe disso –, Dhalia traduziu em som e imagem a sensação de que o Yoga é paradoxalmente milenar e contemporâneo. Uma arte (por que não?) imune ao tempo.
Editor e publisher da Revista Alma, Gustavo São Thiago trabalhou na grande em imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro, especialmente na área de cultura. Estudioso autodidata das religiões, o jornalista finaliza sua primeira obra de ficção, o romance “Impermanência”, e medita diariamente.