KRISHNA DAS
Indicado ao Grammy em 2011 e com 14 álbuns lançados, o cantor norte-americano Krishna Das tirou a música devocional indiana do gueto dos templos e centros de meditação e a colocou em playlists, rádios, festas e encontros de amigos do mundo inteiro. Pergunte a seu professor de ioga e ele abrirá um sorriso ao dizer que Das está para o kirtan* como Jack Johnson está para a surf music.
Krishna Das e Bob Dylan
Mas a trajetória até aí foi tão longa quanto acidentada. Nascido em Long Island, Nova York, Das tem origem judaica e seu nome “verdadeiro” é Jeffrey Kagel. Modelo 1947, embora não pareça de jeito nenhum, foi convocado para lutar no Vietnã após abandonar a faculdade pela segunda vez, mas escapou por ordens médicas.
“Cantar mantras é minha prática principal há anos, mas eu demorei muito para perceber que apenas com a regularidade é que começamos a sentir as mudanças em nós mesmos.”
Com antecedentes psiquiátricos e usando medicamentos pesados, Das se livrou dos vietcongues, mas não do que a maioria de nós só viu em filmes sobre contracultura e movimento hippie. Usou LSD, viciou-se em freebase (um parente próximo do crack), passou longos períodos de depressão, escutou Bob Dylan até não poder mais e morou no Norte da Índia, no ashram (mosteiro) de Neem Karoli Baba, o Maharaj-ji, considerado um santo pelos indianos. Foi ele quem lhe deu um novo nome – Krishna Das, “servidor de Krishna” em sânscrito – e, ao que parece, também uma nova vida.
Encontro com Maharaj-ji
O cantor descreve o encontro em sua autobiografia, “Cantar para viver – Minha busca por um coração de ouro”, lançado em 2011 pela Realejo Livros.
“Do lado de fora, Maharaj-ji era um velhinho enrolado em um cobertor, em cuja presença eu me sentia amado de maneira incondicional. Por dentro, não havia (e não há) nada nele que não fosse amor. (…). Você é capaz de imaginar toda a beleza do mundo condensada, brilhando e reluzindo em uma pessoa só?”
Das viveu com Maharaj-ji por quase três anos, período em que mergulhou na Bhakti Ioga, seu ramo devocional, no qual o canto tem destaque. Mas não imaginava que, décadas depois, seria o maior difusor mundial desta prática.
“Por meio da repetição contínua desses nomes (de Deus), a presença que vive dentro de nós se revela.”
A vida sem Maharaj-ji
Quando Maharajji morreu, em 1973, Das passou por mais um longo período de depressão e incerteza, com altos e baixos vertiginosos. Na ausência do guru, foi o kirtan que o salvou e que lhe deu, mais uma vez, uma vida nova.
Em 1994 – 21 anos após a morte de Maharaj-ji –, Das começou a cantar no Jivamukti Yoga Center, um grande centro de ioga em Nova York. Não era algo profissional, ainda, mas foi o começo de tudo. Logo o lugar ficou pequeno. Vieram os shows, os CDs e, por fim, a indicação para o Grammy.
Krishna Das tornou-se uma celebridade já quarentão e do modo mais casual possível. Só queria louvar seu guru e cantar os nomes de Deus, mantendo-se firme pela Bhakti Ioga, mas ao conjugar o harmônio indiano e o folk norte-americano criou a trilha sonora para o movimento iniciado com a vinda dos primeiros mestres indianos para ocidente. E não parou por aí. Cantou em igrejas, mesquitas, templos, salas de concerto, retiros e centros de ioga. Dividiu o palco com Madonna e com Sting e extrapolou a seara hindu ao incorporar clássicos do canto devocional de outras tradições a seu repertório, como ao fundir o hino gospel “God is real” com o tradicional “Hare Ram” ou “Sri Argala Stotran” com o hit dos anos 80 “Show Me Love. Ninguém tinha feito isso antes.
* kirtan – canto devocional
REVISTA ALMA – ESPIRITUALIDADE CONTEMPORÂNEA
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