CHICO XAVIER, O NOSSO GANDHI
Chico Xavier está além de religião. Indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 1981, o médium representou a maior nação católica do mundo por seu espírito e atitude cristãos. Inspirou seguidores de todas as tradições com seu exemplo de amor e relativizou nossa visão da morte (e da vida) com fenômenos difíceis de serem explicados, mas também de serem ignorados.
Chico Xavier em números
A psicografia foi o mais conhecido deles. O médium assinou mais de 450 livros e teve 50 milhões de exemplares vendidos, começando com um escândalo literário em 1932. “Parnaso de Além-Túmulo” reúne grandes poetas da língua portuguesa. Todos mortos. “Nosso Lar”, seu título mais vendido e traduzido em 15 idiomas, não fica atrás. É a primeira obra da literatura mundial a descrever a vida após a morte – e com detalhes, como numa reportagem.
Imaginem a receptividade. O médium virou tema psiquiátrico, policial e até mesmo judiciário. Processado pela família de um dos autores mortos, em 1944, Chico foi absolvido com um atenuante surpreendente: não extraía qualquer vantagem da publicação de seus livros. Como conta Marcel Souto Maior em “As Vidas de Chico Xavier”, o mineiro destinou toda a renda de seus livros para as obras sociais que apoiava. Quase duas mil, segundo o jornalista. E não foi só isso. O médium psicografou receitas médicas e 10 mil cartas (de mortos para seus familiares) e jamais cobrou por coisa alguma. Viveu até os 92 anos com sua aposentadoria de escriturário.
Chico Xavier e o Nobel
Perseguido nas primeiras décadas de atividade, o mineiro passou a ser admirado. Na década de 1970, teve importantes passagens por um dos programas mais populares da TV, o “Pinga-Fogo”, e conquistou a simpatia do grande público. Mais que isso. Tornou-se uma referência nacional em espiritualidade e valores cristãos como amor e dedicação ao próximo. É bom lembrarmos: até 1940, a prática do espiritismo era criminalizada por nosso Código Penal. Chico viveu essa época e foi fundamental para que a superássemos. (Ou quase).
Entre os destinatários de suas cartas e receitas havia gente de todas as religiões, especialmente católicos. O médium atendia a todos e foi reconhecido por isso. Havia dois milhões de assinaturas na campanha que o levou a indicação ao Nobel da Paz, em 1981. O número de espíritas nos país, segundo o IBGE, mal chegava a dois terços disso. Foram os brasileiros que o elegeram. De todas as religiões.
Mas os suecos e noruegueses do Nobel têm seus próprios parâmetros. Se negaram o prêmio a Gandhi, por cinco vezes, por que o dariam a um brasileiro chamado Chico?
Se a paz votasse em seu próprio prêmio teria sido diferente.